Filmes da Chiclet #36 | VEDAÇÕES



Vedações, de Denzel Washington e Viola Davis é um filme onde as palavras, interpretações e lições de vida, vencem. 

O filme retrata a vida e as frustrações de uma família operária afro-americana nos anos 50. Troy Maxson (Denzel Washington) é um homem que sonhou ser uma estrela de basebol mas que, devido ao racismo que se vivia na época, resignou-se a trabalhar na recolha do lixo para sustentar a família. Está constantemente - em todo o filme - numa crise existencial, e um pouco bipolar, por sua vez. Pois ora erradia felicidade e amor, ora se mostra uma pessoa triste, amarga, indignada e de mal com a vida. É este vaivém de emoções todo o filme, o qual, por sua vez, a nível de imagem é um pouco pobre pois passa-se sempre no mesmo sítio, na casa de ambos. 

Adaptar uma peça de teatro ao cinema não é tarefa fácil mas Denzel Washington fê-lo excepcionalmente bem, tanto quanto realizador, quanto como protagonista. 

Muito teatral, com longos diálogos e poucos silêncios.

É curioso os paralelismos entre as personagens que ditam o seu rumo ao longo do filme. A relação familiar e os sonhos desfeitos de pais e filhos são o centro da narrativa e é a mãe Rose, quem procura conciliar diferenças e frustrações.



A frase que Bono, o amigo fiel de Troy, diz a certo momento no filme, resume bem o papel da personagem feminina: "Some people build fences to keep people out, and other people build fences to keep people in." ("Alguns constroem vedações para manter as pessoas fora, outros constroem-nas para as manter dentro").

A pairar sobre Vedações está uma componente religiosa muito poderosa. O protagonista desafia muitas vezes a morte e o irmão Gabe tem um discurso desconexo, devido à sua deficiência, sobre a mesma ideia. Troy trata a morte como um adversário com quem se propõe a lutar sempre que for preciso e Gabe, no meio da sua doença, fala de São Pedro e do Inferno com uma veemência que deixa os que o rodeiam assombrados.

Viola Davis tem, por seu lado, o melhor desempenho do filme, com a sua Rose conciliadora mas muito magoada. A actriz é contida e defende a família com as armas que tem, mas explode com todas as emoções e ressentimentos quando se dá a reviravolta do filme - não querendo ser spoiler - não gostei da reviravolta. Fiquei absolutamente sem chão, ao nível do que estava expectante do filme e ao longo do mesmo. Não gostei do desenrolar do filme. 

Vedações traz o teatro ao cinema, mas consegue fazê-lo cativando a plateia que, apesar de estranhar tantas palavras e menos estímulos visuais, vai embrenhar-se na história da família Maxson e segui-la com verdadeiro interesse e preocupação.

As lições de vida que se extraem ao longo de todo o filme são tão ricas, que é impossível classificá-lo como um mau filme. Os protagonistas são a certeza arrebatadora de que, no máximo, é um filme menos bom. Com pouco desenvolvimento, em termos de acção, de imagem e da história em si.

Mas que interpretações! ❤️