Filmes da Chiclet #34 | SILÊNCIO

Ontem foi o aniversário da avó, então como um dia não são dias, levámo-la ao cinema para ver o filme que ela tanto queria ver (não, não eram as 50 sombras!): o Silêncio.

É um filme longo, com duração de 3 horas. Mas no geral, gostei. É um filme sem sombra de dúvida para cristãos, e um bocadinho pesado ao nível visual para os mais sensíveis. Mas vê-se bem, e para quem acredita - e tem fé - acho que é uma grande lição. Que independentemente daquilo que nos obriguem a ser, ou a renegar. Independentemente daquilo que teremos de exteriorizar, a nossa fé e aquilo que está no mais íntimo do nosso ser, é sempre nosso. Tal como o que está no nosso coração e nos nossos pensamentos - é só nosso. E isso nada, nem ninguém, nem sob a mais vil tortura consegue apagar - interiormente. Quem não for crente? Acho que também não perde nada em ver, sinceramente. Não sei é se o farão. 



Sebastião Rodrigues (Andrew Garfield) e Francisco Garupe (Adam Driver), são dois padres jesuítas portugueses do século XVII que partem para o Japão em busca do mentor, Cristóvão Ferreira (Liam Neeson). As últimas informações dão conta de que renunciou à fé cristã, tem mulher e vive como um japonês. Foi o facto da história se basear em factos verídicos que inicialmente cativou o realizador quando descobriu o livro de Shūsaku Endō, publicado em 1966. 

Andrew Garfield interpreta um homem obstinado, preparado para ser mártir mas que quer, ao mesmo tempo, destacar-se pela sua missão e pelos seus actos. Ele é uma espécie de Jesus e, para existir, tem de haver uma espécie de Judas, Kichijiro (Yōsuke Kubozuka), um traidor recorrente que se arrepende e volta sempre para pedir perdão. Demonstra uma enorme segurança naquilo em que acredita mas o padre não tem resposta para o sofrimento daqueles que o seguem e que precisam de um sinal de que o tal paraíso existe. 



Na última parte do filme quase todas as personagens desaparecem para nos concentrarmos em Sebastião Rodrigues, nas perguntas e nos seus dilemas com o silêncio de Deus. Ele está preparado para sofrer e defender os seus ideais até ao fim mas não está preparado para ver outros serem torturados em devoção a ele. A dúvida persiste: será ele capaz de apostatar (renunciar publicamente à fé) e viver com isso? 

Vejam e descubram.